quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Rio de dezembro, chove um pouco, 2010.

Temos muito o que fazer para que o motivo que fez nascer este blog se realize. Acho que a pequena procura que ele tem é mais uma prova deste fato. Ainda que a Literatura esteja presente em toda parte, pouca gente tem se interessado em conversar sobre ela.
Dizem que nunca se leu tanto no Brasil, mas suspeito que esta afirmação siga um critério quantitativo e grafocêntrico. Ler em quantidade não é ler bem, assim como não temos somente o que está escrito para ler. Prestar atenção a um texto musical, por exemplo, pode valer mais como experiência de leitura do que muitos textos escritos e publicados. Ler é interpretar o mundo, em todas as suas linguagens.
O fato é que a indústria cultural do impresso anda faturando como nunca, mas não sei se as pessoas, em sua maioria, têm realizado experiências de leitura realmente ricas. Flips e Bienais vivem cheias... As cabeças continuam vazias.
Acho que uma parte disso é culpa da própria escola, que por tanto tempo tem tratado a prática de leitura como uma das modalidades mais torturantes de chatice. Existe pouca gente empenhada em dar à arte literária sua plena realização enquanto atividade que movimenta a sensibilidade humana e desperta cada ser para a experiência de viver em mais profundidade. Para tanto, os professores teriam que abandonar as técnicas de leitura impostas, optar por estratégias mais lúdicas e atraentes.
Bem, eu disse que a arte literária desperta. A respeito disso, considero indispensável que todo mundo leia o ensaio "O direito à literatura", em que o professor Antonio Candido coloca o acesso à fruição das obras literárias como um dos direitos fundamentais do homem, ao lado do pão, da moradia, etc. Indo além, ele diz que não existe ninguém que consiga viver vinte e quatro horas sem o seu quinhão de lirismo e ficção. Aqui, a referência é clara: o povo cria suas próprias obras de arte, manipulando palavras para recriar o mundo. Sim, é verdade. Mas o autor deixa muito claro que o acesso à todos os tesouros da Literatura deve ser um direito de cada cidadão, deixando assim de ser um privilégio de poucos.
Vamos pensar então nisso? Até que ponto os professores de ensino básico, prisioneiros de suas preocupações programáticas, não estão deixando de fazer o essencial: tornar os alunos cidadãos mais plenamente realizados, ao ter contato com as obras literárias de todas as épocas, inclusive as do presente? Não está na hora de rasgar regras, picar pilhas de programas e fazer o que é mais essencial?
Chega de perguntas. A chuva apertou e tomar um banho de chuva é uma experiência importante, ainda que menos essencial do que desfrutar ou produzir obras literárias. Por isso, vou me despedindo. Espero que o Ano Novo nos traga muito mais adeptos.
Beijos.

p.s. - quem quiser ler o texto citado aqui, pode me pedir.