Tempos
difíceis... Como já estamos habituados há décadas, é grande o descaso da
sociedade para com o ensino. As greves de profissionais do setor são ignoradas
pelos governantes, na expectativa de que o tempo irá corroem o ímpeto dos mestres,
colocando-os diante do desafio de não prejudicar seus alunos. Isto tudo alimenta a hipocrisia generalizada,
aquela visão segundo a qual somos todos a favor, mas o que vamos fazer? Um
aspecto há nisso tudo para o qual pouco se presta atenção: o que está em jogo
não é se os alunos perderão o ano ou não, mas sim, e principalmente, como
ficará a qualidade do ensino que lhes é ministrada... O que lhes é ensinado?
Para quê? Estamos formando gerações para o futuro exercício pleno da cidadania,
para o gozo de direitos e o exercício de deveres sociais? Estamos formando
pessoas capazes de assumir responsabilidades e pensar criticamente soluções
para os problemas do país?
Acho que é momento pra se colocar vários tópicos em discussão, desde a eficácia do recurso à greve, como também a necessidade de se criar outros espaços para se compartilhar conhecimento, se concretizar experiências de ensino também fora dos muros das escolas e universidades. Tenho pensado muito nisso, Criar projetos de levar o ensino de Literatura para fora do ambiente acadêmico, fora dos limites estreitos desta instituição tão debilitada como a escola.
Acho que é momento pra se colocar vários tópicos em discussão, desde a eficácia do recurso à greve, como também a necessidade de se criar outros espaços para se compartilhar conhecimento, se concretizar experiências de ensino também fora dos muros das escolas e universidades. Tenho pensado muito nisso, Criar projetos de levar o ensino de Literatura para fora do ambiente acadêmico, fora dos limites estreitos desta instituição tão debilitada como a escola.
Bem, antes de
prosseguir, vale uma pergunta: vale a pena estudar/ensinar/compartilhar
Literatura? Num mundo em que tantos desafios se oferecem ao homem, eu inverto a
pergunta: vale a pena perder tempo debatendo se é importante ou não trabalhar
com nossos alunos uma disciplina que tem tudo para estimular a imaginação e a
criatividade? Claro que já me comprometo com um certo tipo de ensino de
Literatura. Fica subentendido que não estou tratando aqui da mera decoreba de
nomes e datas, e sim do convívio pleno e efetivo dos alunos com o texto
literário, como objeto de leitura, análise, debate, e também como oportunidade
para o aprimoramento da capacidade de expressão escrita. Sim, de quebra,
estaremos formando os talentos do futuro.
Dito isso, fica claro que estamos tratando
do ensino, da produção de conhecimento numa área das mais essenciais para o ser
humano. A arte literária diz respeito ao pleno exercício da faculdade da
imaginação, instrumento de ação e participação que faz de cada um de nós
plenamente humanos. Diante de um mundo mecanizado, como o nosso, mais do que
nunca se coloca como essencial o debate e a produção de novos projetos para o
ensino de Literatura.
Não
é de se surpreender o desprestígio da disciplina dentro da escola atualmente.
No senso comum alimenta-se a visão de que estudar só se justifica dentro de uma
perspectiva de profissionalização a mais imediata possível. A tecnocracia
produtivista que caracteriza o capitalismo industrial e financeiro faz as
pessoas pensarem apenas em valorizar o que seja "útil", numa acepção
restrita de "rentável". Ora, nossa disciplina articula conhecimentos
e experiências que acompanham a todos os seres humanos a qualquer momento, ao
longo da vida. Não damos um conteúdo a ser memorizado e depois esquecido ou
aplicado na vida profissional. Trabalhamos conteúdos que passam a circular na
corrente sanguínea de cada pessoa, pois a Literatura é para todos.
Por
isso é que reitero que o caminho é pensar alternativas, de modo a chamar a
atenção da sociedade para a importância do aprendizado, o aprimoramento do
letramento literário. O desafio é grande, mas é nisso que tenho pensado
atualmente. Foi o que me levou a imaginar a criação do projeto "Poesia
Cantada e Ensino de Literatura".
Com efeito, não é preciso muito esforço
para verificarmos empiricamente, em nosso cotidiano, que a canção popular é a
modalidade de texto poético com a qual nosso povo está mais habituado, que o
acompanha como o seu quinhão diário de ficção e lirismo, para usarmos a
expressão feliz do mestre Antonio Candido. Por este motivo, tenho me
interessado na construção de propostas de ensino de Literatura que passem pelo
intenso aproveitamento da canção. Além de ter seu ensino justificado por se
tratar, ela própria, de uma modalidade de poesia, ainda tem tudo para se
transformar em valiosos aliado na criação de estratégias de ensino dinâmicas e
criativas, que criem condições para que os alunos de todos os níveis de ensino,
e mesmo para interessados em nossas oficinas fora da escola, se familiarizem
cada vez mais com as outras modalidades de texto literário.
O trabalho já começou, tenho encontrado já
alguns parceiros valiosos entre meus alunos, mas ainda temos muito trabalho
pela frente.
Referência Bibliográfica:
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vparios Escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
Referência Bibliográfica:
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vparios Escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
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